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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Aventuras em África: Regresso a Cabo Verde


No interregno de uma deslocação a Cabo Verde, após vários dias de chuva, coisa rara por estas paragens, lá consegui convencer os meus companheiros para aproveitarmos o Domingo para sairmos da Cidade da Praia, e assim termos oportunidade de conhecermos alguns recantos da ilha de Santiago, sobretudo com o fito de poder voltar a mergulhar nestas águas cálidas e frequentemente cristalinas, povoadas de uma variadíssima fauna ictiológica.
Determinante para esse convencimento foi a promessa de futuras e abundantes refeições de base piscícola, para as quais me comprometi a fornecer a principal matéria prima!
Assim, no dia combinado, mau grado a chuva e o vento que se faziam sentir dos quadrantes de leste, lá fomos à procura de uma pequena aldeia de pescadores na costa Oeste, chamada Ribeira da Barca...

Perspectiva da baía da Ribeira da Barca

Aqui chegados, o nosso objectivo era ir um pouco ainda mais longe, procurando um recanto mais afastado chamado Achada Leite. Por acaso encontrámos um morador dessa Achada que se prontificou a mostrar-nos o caminho a troco de uma boleia. O caminho, ainda que em mau estado, era espectacular, bordejando o mar onde se sucediam as baías de águas calmas e transparentes. Tínhamos acertado na nossa opção: apesar do mau tempo em Praia, aqui não chovia e o mar encontrava-se calmo e limpo, sem sinais do desaguar de águas das ribeiras.

Baía a seguir a Ribeira da Barca

Chegados a Achada Leite, o nosso "anfitrião" conduziu-nos por uma vereda até ao ponto mais próximo com acesso ao mar, este estava calmíssimo e transparente: mal podia esperar por mergulhar! Para além de nos conduzir, o nosso amigo disponibilizou-se para nos trazer algumas frutas para nos saciar a fome e a sede após o mergulho. Prometi por isso dar-lhe alguns peixes, e ele pediu... Gata!...
Gata é um tipo de tubarão que é frequente em Cabo Verde, e que eu já tinha aqui visto (no Tarrafal, em 2007), não é perigoso, contudo atinge tamanhos consideráveis e que impõem respeito! Por outro lado não se pode sequer considerar um troféu pois uma vez encontrado não é difícil de arpoar. Eu respondi-lhe "Sim, sim..."

Perspectiva Sul da Baía de Achada Leite, com o rochedo conhecido por "Pilão".

Equipei-me rapidamente e num instante estava dentro de água, o acesso era uma autentica piscina natural em que ao lado da rocha, a pique, se achava um fundo com 4 metros de água e fundo de areia. Aí encontrei um pequeno peixe balão que me entretive a filmar, conforme poderão ver abaixo. Logo de seguida, e ainda no mesmo sítio, para testar a arma entretive-me a fazer um agachon a um Peixe-cirurgião, que capturei com facilidade, para espanto do Cte Ferreira Moreira, que se encontrava na rocha a observar...

Perspectiva Norte da Baía de Achada Leite, a partir do local de acesso à água.

Após este início nadei mais para fora e mais fundo. Pouco tempo depois, encontrei uma gruta com fundo de areia a cerca de 10 metros de profundidade e resolvi explorá-la. Quando acendi a lanterna senti algo grande a movimentar-se do meu lado direito, virei para lá a luz e vi a cauda enorme de um tubarão a levantar poalho. Virei a lanterna no sentido do corpo e até à cabeça e verifiquei que era um grande Tubarão-gata e em poucos segundos pensei se atirava ou não...

O Cte Ferreira Moreira ajuda-me a tirar o peixe cirurgião do arpão.

Rapidamente, resolvi testar o material e dar uma prenda ao nosso "anfitrião", de acordo com o seu pedido, e premi o gatilho... o tiro entrou atrás do olho e saíu nas guelras do outro lado, o tubarão, que parecia querer contornar-me pela esquerda, mudou imediatamente de direcção e passou-me à direita directo à saída da gruta.

Nadando à superfície.

Com a arma amarrada à boia, não foi difícil controlá-lo a partir da superfície, para além disso o tubarão nadava lentamente e sem fazer muita força, contudo contorcendo-se sobre o arpão. Pensei puxá-lo para a superfície e tentar arrematá-lo com o punhal, uma vez que parecia algo enfraquecido. Mais uma vez não foi difícil puxá-lo para cima, mas quando o bicho me sentiu a segurar no arpão, o caso mudou de figura: contorcia-se de forma poderosa e sem me dar qualquer hipótese de o controlar (nesta altura verifiquei que teria mais de dois metros). Com receio de me enrolar no fio larguei-o controladamente para o fundo.
Nessa altura ocorreu-me que o pessoal que estava em terra, o Cte Ferreira Moreira, o Major Santana, cavaleiro do Exército, e mais alguns locais que por curiosidade nos tinham vindo ver, e que não estava muito longe, poderiam puxá-lo directamente para as rochas e então chamei-os. Ao fim de algum tempo, não me parecendo obter resposta, fiz nova tentativa de arrematar o tubarão, e novamente a mesma situação, só que desta vez ainda tentei dar-lhe uma facada na cabeça, mas a faca não entrou mais de meio centímetro! O crâneo era duríssimo! Em contrapartida o arpão de 7,5 mm ficou num cotovelo!!! Mais uma vez deixei o animal seguir para o fundo, onde se começou a contorcer até que, de repente, a barbela deve ter fechado e o bicho soltou-se! Nessa altura chegava ao pé de mim a nadar, apenas com óculos e snorkel, o Cte Ferreira Moreira, sem saber ao que vinha: o Major Santana, que afinal tinha ouvido os meus gritos, dissera-lhe para ir lá ele ajudar, sem explicar de que se tratava!... Quando lá chegou, sem mais, apenas viu um bicho enorme a passar-lhe ao pé !...

Cte Ferreira Moreira nada em meu "auxilio"...

Depois disto fiquei com o arpão todo torto (mesmo depois da tentativa do nosso "anfitrião" de o endireitar), mas entrava na arma: nessas circunstâncias só me restava ver se encontrava o mesmo ou outro tubarão do mesmo género, pois o arpão já estava estragado e não dava para mais nada!
Então e não é que passado mais algum tempo vejo outro Tubarão-gata mais ou menos das mesmas dimensões, também numa gruta, mas desta vez com a cabeça de fora. Desta vez fui por cima e disparei-lhe mesmo na cabeça. Mas o arpão não entrou (mais uma vez este tubarão mostrou ser um cabeça dura!) e o animal apenas abanou a cabeça e foi-se embora paulatinamente...


Olho-de-cão e Peixe-soldado

Mas ainda tinha que apanhar peixe para, pelo menos, cumprir as promessas de patuscada, pelo que apesar do cansaço das lutas e da adrenalina, tive que me andar a esfalfar para apanhar qualquer coisita e abandonar as ideias de qualquer troféu...


Peixe-balão

As minhas capturas em Cabo Verde resumiram-se assim a alguns Olhos-de-cão (maravilhosos na grelha e em sequinho), a um Peixe-cirurgião, uma Garoupa, um Peixe-anjo (por indicação dos locais e de facto é delicioso, com uma carne como o Rascasso, mas de sabor mais suave - em contrapartida as tripas são pestilentas), um Peixe-papagaio com cerca de 2,5 kg (excelentes filetes) e um Peixe-porco com cerca de 3 kg (mais uma vez, consumido em filetes grelhados).

Afinal havia peixes grandes: atuns Albacora capturados à linha
por embarcações de pesca local em Porto Mosquito,
ao lado da Cidade Velha, património da Humanidade.

Ainda assim, após várias tentativas, consegui fazer um agachon com sucesso a um bom Badejo (teria 4 kg), mas o fio da arma enrolou-se nos elásticos e aquele escapou-se; vi uma tartaruga, vi um Mero com cerca de 2 kg num buraco, vários Peixes-balão entre muitas outras espécies.

Impressionantes eram também os cardumes de salmonetes, grandes (os cardumes e os peixes que os compunham), que pululavam em grutas ou reentrâncias com fundo de areia e que faziam como que ribombar a água nas mudanças bruscas de velocidade e direcção quando se assustavam...

Enfim, mesmo sem troféus, vale sempre a pena mergulhar em Cabo Verde...

Bons mergulhos,

António Mourinha



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