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quinta-feira, 24 de março de 2016

Pesca na "Faixa de Gaza"



Desde a criação do Parque Marinho Professor Luis Saldanha, que, no espaço costeiro protegido de mar de norte que vai desde o Cabo Espichel até Setúbal e que os pescadores submarinos utilizavam sobretudo no Inverno, à falta de outras alternativas e de forma a manterem a prática da sua modalidade ao longo do ano, resta apenas uma pequena faixa arenosa onde se pode praticar pesca submarina.
Esta faixa situa-se no espaço entre o espigão da praia da Figueirinha, em Setúbal, que a delimita a Oeste, e o Farol do Outão, onde se inicía o Porto de Setúbal, e que a delimita a Leste, tendo muito pouco interesse em termos de espécies capturáveis: normalmente apenas uns escassos peixes de areia, um ou outro polvo e alguns chocos, na época deles. Para além do interesse limitado das espécies disponíveis, esta é uma zona muito exposta às correntes de maré que a tornam impraticável fora do período do estofo da maré. Finalmente, como cereja no topo do bolo da falta de atratividade desta zona para a pesca submarina, acresce que, por ser muitas vezes o único espaço protegido onde o mar deixa pescar, é tão frequentado por pescadores submarinos que sentem a necessidade de "molhar o fato" nos períodos de mar mau, que ficou conhecida na gíria dos pescadores submarinos da zona como "Faixa de Gaza", numa clara alusão à densidade de espingardas de pesca submarina que muitas vezes se passeiam por alí.  

Contudo o mar apresenta-nos surpresas em todos os locais, mesmo nos mais inesperados, e até a "Faixa de Gaza" não escapa a esse princípio, como demonstra esta estória que aqui vos deixo. 


Numa dessas alturas em que os dias de mar mau em todo o lado já provocam falta de água salgada no pescador submarino, eu, o Rogério Santana e o António Sousa decidimos ir molhar os fatos e praticar um pouco na mal afamada "Faixa de Gaza". Escusado será referir que as expectativas eram baixíssimas e que o principal interesse consistia em treinar as apneias e a aquaticidade.
Assim lá nos equipámos e entrámos. Como o interesse era treinar as apneias desloquei-me para a zona mais profunda e onde a maré se fazia sentir com mais intensidade, apesar de estarmos quase no estofo da enchente. Aí fui praticando apneias fazendo uns agachons aqui, outros ali, pois iam-se vendo primeiro umas sarguetas e depois, mais longe e mais desconfiados, uns sargos já capturáveis. Isto incentivou-me a insistir nas apneias e assim consegui capturar dois sargos. Mas a maior surpresa estava para vir: num destes agachons entra-me a nadar um grande safio, que, numa primeira fase, quase me assustou, num segundo instante deixou-me hesitante sobre onde lhe acertar, pois o tiro na cabeça com o peixe em movimento poderia ser arriscado, mas que finalmente me deixou confiante de que era mesmo na cabeça que tinha que lhe acertar. O tiro saíu bom, entrou-lhe junto ao focinho e saíu atrás, junto à guelra. O peixe estranhamente não se torceu sobre si próprio como costumam fazer os safios, antes nadando para o fundo para se afastar de mim. Só já quando recuperado à superfície o tentava arrematar é que começou a tentar torcer-se com força, mas incapaz de eximir-se ao desfecho inevitável. 


Eu fiquei bastante contente com esta prenda inesperada que o mar proporcionou, enquanto que o Santana ficou incrédulo quando se aproximou de mim e viu o peixe, pois de facto foi uma captura improvável, num lugar improvável.
Ainda se apanharam uns polvos de bom tamanho alapados na areia (talvez fosse do que o safio andava à caça...) e assim se concluiu uma boa jornada de pesca submarina quando nada o fazia prever...
Um agradecimento particular ao António Sousa pelas excelentes fotografias.

Votos de bons mergulhos para todos, nem que seja na "Faixa de Gaza"...

António Mourinha 


2 comentários:

  1. Só mesmo um crente como tu para conseguires achar um peixe desses ai. Como sempre a tua perseverança faz milagres.
    Quanto ao nome do local, começámos e e outros a chamar-lhe assim desde Agosto de 2005 quando os pescadores submarinos se tornaram os únicos dos lúdicos interditos no total dos 23km de Costa. Sobraram-nos apenas estes metros de água que já não são rio mas ainda não são reserva e daí o nome.
    Entretanto passaram os 5 anos prometidos que serviriam de análise e depois mais 5 e hoje, quando queremos iniciar alguém, temos que os levar para Sesimbra Oeste onde antes de aprender o pato ou a compensar, os maçaricos têm de tolerar a má visibilidade, a força de fundo e a saída nas ondas. E isto tudo para interditar a mais limpa e ecologica forma de pesca.

    Abraço

    Nuno Rosado

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  2. Eu como iniciante da pesca submarina será esse um bom local para praticar? pois como aqui falam lá têm correntes fortes, como posso saber qual a melhor altura para ir?

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