Desde a criação do Parque Marinho Professor Luis Saldanha, que, no espaço costeiro protegido de mar de norte que vai desde o Cabo Espichel até Setúbal e que os pescadores submarinos utilizavam sobretudo no Inverno, à falta de outras alternativas e de forma a manterem a prática da sua modalidade ao longo do ano, resta apenas uma pequena faixa arenosa onde se pode praticar pesca submarina.
Esta faixa situa-se no espaço entre o espigão da praia da Figueirinha, em Setúbal, que a delimita a Oeste, e o Farol do Outão, onde se inicía o Porto de Setúbal, e que a delimita a Leste, tendo muito pouco interesse em termos de espécies capturáveis: normalmente apenas uns escassos peixes de areia, um ou outro polvo e alguns chocos, na época deles. Para além do interesse limitado das espécies disponíveis, esta é uma zona muito exposta às correntes de maré que a tornam impraticável fora do período do estofo da maré. Finalmente, como cereja no topo do bolo da falta de atratividade desta zona para a pesca submarina, acresce que, por ser muitas vezes o único espaço protegido onde o mar deixa pescar, é tão frequentado por pescadores submarinos que sentem a necessidade de "molhar o fato" nos períodos de mar mau, que ficou conhecida na gíria dos pescadores submarinos da zona como "Faixa de Gaza", numa clara alusão à densidade de espingardas de pesca submarina que muitas vezes se passeiam por alí.
Contudo o mar apresenta-nos surpresas em todos os locais, mesmo nos mais inesperados, e até a "Faixa de Gaza" não escapa a esse princípio, como demonstra esta estória que aqui vos deixo.
Numa dessas alturas em que os dias de mar mau em todo o lado já provocam falta de água salgada no pescador submarino, eu, o Rogério Santana e o António Sousa decidimos ir molhar os fatos e praticar um pouco na mal afamada "Faixa de Gaza". Escusado será referir que as expectativas eram baixíssimas e que o principal interesse consistia em treinar as apneias e a aquaticidade.
Assim lá nos equipámos e entrámos. Como o interesse era treinar as apneias desloquei-me para a zona mais profunda e onde a maré se fazia sentir com mais intensidade, apesar de estarmos quase no estofo da enchente. Aí fui praticando apneias fazendo uns agachons aqui, outros ali, pois iam-se vendo primeiro umas sarguetas e depois, mais longe e mais desconfiados, uns sargos já capturáveis. Isto incentivou-me a insistir nas apneias e assim consegui capturar dois sargos. Mas a maior surpresa estava para vir: num destes agachons entra-me a nadar um grande safio, que, numa primeira fase, quase me assustou, num segundo instante deixou-me hesitante sobre onde lhe acertar, pois o tiro na cabeça com o peixe em movimento poderia ser arriscado, mas que finalmente me deixou confiante de que era mesmo na cabeça que tinha que lhe acertar. O tiro saíu bom, entrou-lhe junto ao focinho e saíu atrás, junto à guelra. O peixe estranhamente não se torceu sobre si próprio como costumam fazer os safios, antes nadando para o fundo para se afastar de mim. Só já quando recuperado à superfície o tentava arrematar é que começou a tentar torcer-se com força, mas incapaz de eximir-se ao desfecho inevitável.
Eu fiquei bastante contente com esta prenda inesperada que o mar proporcionou, enquanto que o Santana ficou incrédulo quando se aproximou de mim e viu o peixe, pois de facto foi uma captura improvável, num lugar improvável.
Ainda se apanharam uns polvos de bom tamanho alapados na areia (talvez fosse do que o safio andava à caça...) e assim se concluiu uma boa jornada de pesca submarina quando nada o fazia prever...
Um agradecimento particular ao António Sousa pelas excelentes fotografias.
Um agradecimento particular ao António Sousa pelas excelentes fotografias.
Votos de bons mergulhos para todos, nem que seja na "Faixa de Gaza"...
António Mourinha
Só mesmo um crente como tu para conseguires achar um peixe desses ai. Como sempre a tua perseverança faz milagres.
ResponderEliminarQuanto ao nome do local, começámos e e outros a chamar-lhe assim desde Agosto de 2005 quando os pescadores submarinos se tornaram os únicos dos lúdicos interditos no total dos 23km de Costa. Sobraram-nos apenas estes metros de água que já não são rio mas ainda não são reserva e daí o nome.
Entretanto passaram os 5 anos prometidos que serviriam de análise e depois mais 5 e hoje, quando queremos iniciar alguém, temos que os levar para Sesimbra Oeste onde antes de aprender o pato ou a compensar, os maçaricos têm de tolerar a má visibilidade, a força de fundo e a saída nas ondas. E isto tudo para interditar a mais limpa e ecologica forma de pesca.
Abraço
Nuno Rosado
Eu como iniciante da pesca submarina será esse um bom local para praticar? pois como aqui falam lá têm correntes fortes, como posso saber qual a melhor altura para ir?
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