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domingo, 1 de novembro de 2009

Aventuras em África: Senegal



Dakar, Senegal

Após o Gana, os Camarões e o Gabão queria agora em Dakar, no Senegal, ter a oportunidade de me despedir (pelo menos para já!) da pesca submarina em África. Este era o último destino desta minha viagem africana e não queria perder esta oportunidade, até porque aqui as condições de pesca e o peixe são substancialmente diferentes daquilo que tinha já experienciado nos outros países africanos. Nesta época do anos sopra frequentemente a nortada, o que faz com que as condições sejam algo semelhantes às da nossa costa ocidental no Verão: muito “upwelling” (a subida da àgua do fundo junto à costa), consequentemente àgua fria e muitas vezes turva. As espécies que aqui se podem encontrar variam muito com as condições meteo-oceanográficas: se as condições estiverem como acabei de descrever é possível encontrarem-se badejos, meros, saimas, sargos, pargos e outras espécies nossas conhecidas; mas, se o vento soprar de sul ou de oeste, o que acontece sobretudo de Setembro a Novembro, então já se poderão encontrar espécies demersais como as “carpes rouges”, ou pelágicas como as barracudas, lírios, wahoos, dourados etc. O Senegal, e sobretudo a parte a norte de Dakar, acaba pois por ser um local onde se faz a transição das espécies mediterranico-atlânticas para as espécies subtropicais e tropicais havendo consequentemente uma grande diversidade de pescado.

À chegada a Dakar as condições não eram nada favoráveis: ondulação de fundo forte, agua bastante turva em todos os locais e nortada, o que augurava água fria. Os meus parceiros da pesca no Gabão, Carl Friedrich e Carlos del Corral estavam mais uma vez com “ganas”, como dizia este ultimo. Contudo, sem fatos, aqui, não iriam certamente ter muito sucesso. Por isso para procurar equipamentos para eles fomos a um site de mergulho, que eu já tinha “sondado” da última vez que estive em Dakar, o “Oceanium Dakar”, na Corniche Est, estrada costeira que contorna a cidade por Este. Quanto a mim, estava esperançoso que o meu “fato descapotável” que eu tinha impiedosamente desprovido de mangas e capuz aquando do mergulho em Busua Beach, praia tropical a Oeste de Sekondi-Takoradi, no Gana, chegasse para me manter dentro de água durante umas boas horas.

1. Pequeno almoco inesperado

O “Oceanium Dakar” eh uma Associação de Protecção Ambiental, que, no que respeita ao mergulho, é gerida por Rodwan El Ali, um monitor CMAS. Ele disponibilizou-se para nos alugar o equipamento e ainda nos deu o contacto de um pescador, do pequeno porto de pesca mesmo ao lado, que costuma fazer pesca submarina e que ele achava que nos poderia levar. Contactámos esse pescador, Boy Ding (diz-se Djan), um jovem de seus 28 anos, que se disponibilizou para nos levar durante todo o dia por 30 000 FCFA (aproximadamente 45 Euro), e nós ficaríamos com peixe suficiente para o almoço. Combinámos para daí por três dias, ou seja no último dia da nossa estadia em Dakar, na esperança de que as condições oceanográficas melhorassem entretanto.
Felizmente assim foi, o mar melhorou consideravelmente nos dois últimos dias e após uma breve confirmação telefónica na véspera, no dia marcado lá estávamos às 07:30 no “Oceanium Dakar”. Para não me atrasar nem sequer tomei o pequeno-almoço, mas qual não foi a minha surpresa quando ao chegar ao local estava uma mesa posta ao ar livre com o pequeno-almoço pronto! Aquilo certamente não seria para nós, pois não tínhamos combinado nada nesse sentido, mas, pessoas, nem vê-las, e com a fome a apertar não foi preciso mais do que dois minutos para estarmos sentados a banquetearmo-nos com aquele pequeno-almoço inopinado!

2. Carlos: “Do que é que estamos à espera?”

Demorou ainda algum tempo até chegar alguém que nos fornecesse o material (os ritmos em África são ligeiramente diferentes daqueles a que estamos habituados), mas pelas 09:00 já estávamos a sair para o mar na canoa do nosso amigo Boy Ding, ele também equipado para mergulhar.

3. Carlos: “Vamos a eles!”

Começamos por ir tentar a nossa sorte numa zona a SW da ilha de Goree, ilha famosa pelo seu passado ligado à escravatura e que é actualmente património cultural da humanidade.
4. Ding orgulhoso com a sua captura

Preparei a minha espingarda de 90 com dois elásticos e fui o primeiro a entrar na água. Imediatamente um arrepio de frio me pôs a par de que iria ter problemas: a água estava demasiado fria para o meu “colete” improvisado no Gana! Mesmo assim lá fui mergulhando. Estávamos numa zona de pedra partida com 12 m na areia e 7 metros no topo da baixa. A água estava ainda com pouca visibilidade, esta a situar-se entre os 2m e os 2,5m. Nos primeiros mergulhos vi uma comunidade de peixes balão que se encontravam sobre a areia na zona de sota ondulação. Aqui dava para ver que o mar ainda tinha alguma força de fundo pois estes peixes, sem nadar, deslocavam-se sobre a areia ao sabor do movimento das águas, 1,5m para lá, 1,5m para cá. Após mais alguns mergulhos vi badejos e saimas de pequeno tamanho que se aproximavam no limite da visibilidade, os maiores badejos da ordem de 1 kg. Não atirei a nenhum desses peixes por serem demasiado pequenos para o tamanho com que os tenho apanhado na Madeira e em Cabo Verde.
5. Ding com as suas capturas, quando voltavamos à procura de um casaco

As minhas apneias estavam curtíssimas: estava a tremer com frio! Ao fim de quarenta minutos, já não aguentando mais, voltei para a canoa e chamei as hostes: tínhamos que voltar ao “Oceanium Dakar” para arranjar um casaco de mergulho para mim, que me permitisse, ao menos, estar razoavelmente confortável dentro de água. Ding com um fato completo de 5 mm não apresentava qualquer problema com o frio, tão pouco os meus amigos Carl e Carlos, com os seus fatos de mergulho para garrafa de 6 mm, no entanto todos concordaram em voltarmos para trás para eu arranjar um casaco.
6. “Agora já estou mais quentinho!”

Durante estes 40 min Ding apanhou 6 peixes: 4 pequenas saimas, um badejo também pequeno e uma sardinha, esta, naturalmente, dentro da boca do esfaimado badejo. Perguntou-me porque é que eu ainda não tinha apanhado nada... Disse-lhe que estava à espera dos pais daqueles ao que ele me respondeu que então provavelmente teria que esperar mais uns meses! O badejo aqui é como o robalo para nós: há em quantidade durante todo o ano, mas os maiores exemplares surgem sobretudo durante a época de reprodução, que, para o badejo, é o Verão, explicou-me Ding. Por isso ele não perdoa aos exemplares de quilo, até porque vive desta actividade.
7. A preparar o enfião para a foto

Mais quarenta minutos e eis-nos de novo “back in the game”, eu desta vez envergando um casaco para mergulho autónomo de 6mm! Agora fomos para umas baixas, também de pedra partida, situadas entre Dakar e a ilha de Goree, que vinham dos 16 m, na areia, até aos 9m no topo. Os peixes que havia eram mais uma vez os badejos, ligeiramente maiores que na baixa ao pé de Goree, aparentando entre o 1Kg e os 2 kg. A àgua apresentava aproximadamente a mesma visibilidade que naquele local, ou seja aproximadamente 2 m, razão porque mudei para uma espingarda de 82 cm. Aqui havia uma corrente considerável que nos obrigava a nadar até agarrar a bóia, descansar agarrados a esta e depois mergulhar outra vez.
O meu amigo Carlos desistiu, porque era “muy fondo”, enquanto o Carl nem sequer foi para dentro de água, estando mais virado para apanhar sol...
8. Eu, Carl, o peixe e os Chefes da aldeia dos pescadores

No entretanto Ding mete para o barco mais 3 badejos, o maior já com 2 kg. Vendo-me na contingência de levar para terra uma “grade”, como diria o meu amigo Rui “Agachon” Sousa, e ainda de ter que tirar peixe das capturas do Ding para o nosso almoço, deixei-me de peneiras e fui tentar apanhar o que havia. Já ia tarde para conseguir equilibrar a balança, mas, ainda assim, em pouco tempo contribui para as capturas com mais três peixes, cada um da ordem dos 1,5 kg. A técnica a seguir era o agachon. O problema era que com a pouca visibilidade algumas vezes o peixe via-nos já muito perto e logo se assustava e fugia para fora de visibilidade outra vez. A pesca ao buraco também poderia dar os seus frutos, mas a minha lanterna tinha ficado sem interruptor nos Camarões e como tal peixe entocado em buraco escuro estava definitivamente a salvo. Moreias havia muitas, grandes e gordas, outra razão que não aconselhava a ir espreitar os buracos muito de perto sem lanterna. Numa pedra que fazia uma passagem vi um mero que teria uns 6 kg, acompanhado de dois badejos. O primeiro logo fugiu, antes de qualquer veleidade da minha parte, e, quando os dois mais esguios se prontificavam para lhe seguir o caminho consegui arpoar o maior deles, tinha 2 kg. Posteriormente Ding contou-me que também tinha visto o mero, mais ou menos na mesma zona o que provavelmente significa que o peixe teria buraco perto.
9. Nós e as “gazelas”

Por esta altura já eram 14:00 e decidimos dar por finalizada a nossa jornada, pois ainda tínhamos que ir para terra e preparar o almoço: peixe acabadinho de apanhar grelhado na brasa!
Quando chegamos a terra os chefes da aldeia de pescadores vieram aguardar-nos na praia vestidos com os seus trajes tradicionais, um sinal de consideração e amizade, ou não fosse o Senegal a terra da “teranga”, a arte natural de bem acolher os visitantes.
10. Carlos: “Creo que el pescado no es fresco...”

Amanhámos logo um badejo e uma saima que foram grelhados pelo nosso anfitrião Boy Ding e seguidamente degustados, ali mesmo, na praia junto ao mar, com o molho tradicional, à base de cebola picada e pimenta branca, e acompanhados de umas boas “gazelas”!
O que é que já estavam a pensar... “gazela” eh uma marca de cerveja Senegalesa!

(P.S.: para quem for a Dakar, no Senegal e pensar em fazer pesca submarina, ou mesmo apenas mergulhar aqui ficam os contactos certamente serão bem acolhidos: “Oceanium Dakar”, BP 2224 Corniche Est, Dakar, telf. +221 338 22 24 41, e-mails elali.rodwan@hotmail.com / oceanium@arc.sn; Boy Ding telf. +221 775 37 40 71)

António Mourinha

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