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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Aventuras em África: Gabão


Compromissos profissionais conduziram-me a África durante vários meses no início de 2009, mais especificamente à costa ocidental africana e Golfo da Guiné, tendo a oportunidade, nesse périplo, de visitar, entre outros países, o Gana, os Camarões, o Gabão e o Senegal. Relato aqui, de forma sumária, as minhas parcas experiências relacionadas com a pesca submarina nestes quatro países: desta vez é sobre o Gabão.


Port Gentil, GABÃO

Após os mergulhos no Gana e nos Camarões, consegui realizar o meu 3º Round de Pesca Submarina em África, agora no Gabão, e não obstante as condições estarem péssimas: já começou há algum tempo a época das chuvas e o mar encontrava-se verdadeiramente castanho.
Aqui em Port Gentil, toda a costa é de areia por isso os únicos locais onde se pode praticar pesca submarina é nas plataformas petrolíferas que se encontram mais ao largo. Para conseguir ir até às plataformas fui até ao porto de pesca para ver se encontrava algum pescador que me levasse. Por acaso conheci lá um pescador S. Tomense, o Vicentino, agora radicado no Gabão após ter casado com uma Gabonesa. Ele disse-me que provavelmente era possível encontrar água limpa mais para o largo. Actualmente Vicentino já não vai ao mar pois é proprietário de um pequeno bar junto ao mercado do peixe, contudo é também dono de dois barcos de pesca com companha também de S. Tomenses, e disponibilizaria um dos seus barcos e tripulação para irmos à pesca no Sábado.
Combinei de lhe pagar o combustível e de lhe dar o peixe capturado, o que poderia ser um bom negócio, consoante as capturas que fizesse.


1. Eu e o Carl Friedrich frente a um robusto pequeno almoco local.


Assim no dia combinado lá estava no porto de pesca acompanhado de dois companheiros de pesca: um americano actualmente a viver em Estugarda, o Carl Friedrich e outro espanhol, de Cádis, o Carlos del Corral. O primeiro era a segunda vez que mergulhava em apneia, enquanto que o espanhol já costumava fazer pesca submarina na sua zona. Tomámos um robusto pequeno-almoço local enquanto aguardávamos pelo Vicentino. Antes deste chegou a sua tripulação, que nos iria acompanhar na nossa jornada. Primeiro chegou o António “Russo”, um S. Tomense, de olhos azuis e tez clara a denunciarem o pai português, e depois o Pascoal, pescador da Guiné Equatorial a tentar a sua sorte por terras Gabonesas. Finalmente o patrão chegou, tratou do reabastecimento e da provisão de gelo (pelos vistos estava com fé nas capturas), e, finalmente, enquanto largávamos para o mar, ia dando, do cais, recomendações ao “Russo” sobre os locais a visitar.

2. Carlos del Corral com a sua faca contra os tubarões.

Pelas 09:00 já seguíamos a toda a velocidade rumo a Oeste para contornar o Cap Lopez e daí seguir para sul onde se encontram bastantes plataformas petrolíferas e esperávamos encontrar também água limpa. Enquanto navegávamos, eu e Carl reparámos que Carlos estava a atar com uma filaça aos seus calções uma faca, que terá pertencido ao talher de um qualquer restaurante. Alguns dias antes ele tinha-me manifestado alguma preocupação por irmos mergulhar num local onde poderia haver tubarões e por não ter uma faca de mergulho, mas eu não queria acreditar que era por isso que ele estava a fazer aquela operação. Questionado, Carlos apenas exibe orgulhoso a sua “faca anti-tubarão”: eu e Carl tivemos que registar o momento com as máquinas fotográficas, para não corrermos o risco de ao contar a história virmos a ser apelidados de mentirosos!

3a Pascoal e António “Russo” ao leme à passagem por Cap Lopez.


Contornamos Cap Lopez e navegamos para sul à procura de água limpa. Passamos uma primeira plataforma e a água estava castanha, então seguimos mais para o largo para uma outra pequena plataforma a cerca de 8 milhas de costa. À medida que nos íamos aproximando a esperança de encontrar água limpa ia diminuindo, pois a cor da água persistia em manter-se castanha... Ao chegarmos havia um cardume de uma espécie de cavalas ou de pequeno atum a alimentar-se à superfície da água. Contornamos a plataforma mantendo um corrico na água, uma dessas cavalas atirou-se ao corrico e logo se viu uma "Carpe Rouge" de bom tamanho a saltar para a comer: de facto só ficou a cabeça! Perante este cenário, e após duas horas de navegação e nem um mergulho, mesmo com a água completamente turva decidi experimentar mergulhar!

3b Eu, o António “Russo” e o Pascoal.

4. A pequena plataforma desactivada escolhida para a pesca.

Mas, logo ao entrar na água para amarrar o barco à plataforma pude verificar que as condições ainda estavam piores do que apenas a água suja: havia uma corrente de cerca de 2 nós e uma vaga larga de 1 m a 1,5m que dificultava inclusivamente que me pudesse agarrar às estruturas para descansar e preparar os mergulhos. Mas, por outro lado, pude verificar que a água a cerca de 5 m de profundidade limpava bastante e que se passava, como que por magia, de uma situação de menos de 1 m de visibilidade para cerca de 8 m de visibilidade.
Mesmo assim posso dizer-vos que não é uma situação nada agradável, num sítio onde sabemos que podem haver tubarões não conseguirmos ver da superfície o que quer que seja que ande à nossa volta!
Carlos del Corral, mesmo nesta situação, não se intimidou e saltou também para a água confiante na sua faca e cheio de vontade de apanhar peixe!

5. Carlos: “Tubarões? Com a minha faca no bolso venham eles!”

6. O “Russo” com uma moreia pescada à linha.


"Carpe rouge" não vi nenhuma mas vi uma "Carpe noire" (os S.Tomenses chamam a ambas corvinas) que teria uns 7 kg e que se comportava como um peixe pelágico mas que nunca me deixou aproximar. Havia também um cardume de Carangídeos, que se situariam entre os 7 e os 15 kg mas que estavam reticentes em aproximarem-se e exigiam uma apneia que estava com dificuldade em atingir por estar sempre a nadar. Ao fim de cerca de meia hora consegui aproximar-me de uma boa Barracuda que se encontrava na zona no meio dos pilares, onde era difícil eu ir, porque, com a corrente, a bóia se emaranhava nas estruturas. Mas consegui arpoa-la, e subi à superfície para respirar. Aqui estava a caçar com o cabo da bóia (mangueira) com apenas 14 metros. Desta forma mesmo que um peixe se prendesse nas estruturas submersas eu conseguiria ir busca-lo, pois os 14 metros mais os 6 metros da arma com o cabo e o arpão davam 20m, profundidade que me permitiria com relativa facilidade recuperar o arpão (lição aprendida após a perda de um arpão nos Camarões pelo meu parceiro quando estávamos a pescar com fundos não acessíveis). Esta revelou-se uma boa medida pois a barracuda obrigou-me logo a testar o estratagema: emaranhou-se nas estruturas e tive que mergulhar a recuperá-la, tinha 12 kg!


7. Uma barracuda com boa saude oral: nem tartaro, nem caries.


Após mais alguns mergulhos na zona de sota-corrente consegui arpoar (pelo rabo) um carangídeo (caranx hippos), chamado em S. Tomé de Corcovado, já de bom tamanho e que deu boa luta, mas que consegui capturar: tinha 10 kg. Mergulhar na zona de sota-corrente era mesmo a melhor opção pois a bóia e nós íamos derivando para fora evitando que o peixe fugisse para as estruturas.
Mais alguns mergulhos e arpoei outro carangídeo ligeiramente maior que o primeiro, mas quando o ia a entregar no barco (sem antes o ter matado) deixei-o fugir. Foi o final da pesca neste local... eu já estava cansado e com pouca paciência dadas as condições difíceis e os meus dois parceiros não estavam a usufruir nada da experiencia.


8. O corcovado do dia: apanhado pelo rabo!

Fomos então para uma zona de praia entre Cap Lopez e Port Gentil, as condições eram incomparavelmente melhores mas era só areia...
Já no final, aproximamo-nos ainda de uma estrutura de acostagem de navios para carregamento de petróleo, e aí o meu parceiro espanhol arpoou duas garoupas pintadas. Essas garoupas foram a glória do Carlos e a nossa safa, pois acabaram por ser o nosso jantar desse dia: como a pesca não foi abundante, os peixes grandes ficaram para os pescadores que nos levaram!

9. Carlos: “Pois, pois, se nao fosse eu a apanhar o jantar comiam era mier...”

E as garoupas, grelhadas, estavam de facto deliciosas!

No final, e mesmo assim com condições difíceis, acabou por ser um dia muito bem passado: mar, pesca submarina e peixe para o jantar, o que é que se pode pedir mais...

António Mourinha

(P.S.: para quem for a Port Gentil, no Gabão e pensar em fazer pesca submarina nas plataformas petrolíferas, aqui fica o contacto do Vicentino que conhece muito bem os locais de pesca e certamente vos acolherá bem: tel. +241 07 16 09 60)

1 comentário:

  1. Mais uma brutal crónica das aventuras do Mourinha. Parabéns por essa capacidade de aproveitar pequenos momentos no fim do mundo para escreveres páginas da tua história. Os teus netos terão sempre um avô com estórias novas e interessantes para os adormecer.
    Abraço,
    Rogério Santana

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