Face às previsões de mar chão e aragens, e às solicitações dos companheiros de pesca, mesmo que ainda a recuperar de uma constipação que já dura há tempo demais, o apelo do mar foi mais forte e fez-me rumar a uma praia já nossa conhecida, muitas vezes agreste e dura, às vezes ingrata, mas sempre bonita: a Samarra...
O dia estava bonito, com o céu limpo e solarengo, no mar a água clara, coisa pouco comum por estas paragens, prometia bons momentos, pelo menos a visualização de bons exemplares e quiçá a captura de alguns deles...
Mas após entrar verifiquei que quase tudo falhava: o peixe de tamanho era escasso, a água estava gélida, e para compor o ramalhete, levantou-se um vento desagradável, originador de uma vaga que, mesmo sem grande força, nos fazia sentir à superfície como um navio à deriva em mar desencontrado...
Ao fim de quase duas horas sem capturas, lá descortinei uma grande cauda num buraco, esperei pela melhor posição e em pouco tempo tinha uma "tábua" na mão: um daqueles sargos fumadores, com os dentes negros do alcatrão...
Com muitas pedras assoreadas, os fundos de areia e pedra sucediam-se sem lugares que pudessem albergar peixe, nisto, numa das malhas de areia pareceu-me ver mais uma "tábua", desta vez um bom linguado, que, sem história, se juntou ao sargo no enfião.
Com as condições desagradáveis, já cansado, e ainda com alguma tosse, resolvi regressar à praia, tinha a minha pesca feita: duas tábuas, que não chegando para fazer mobília, certamente chegavam para enfeitar uma mesa em condições...
Com votos de bons mergulhos, e já agora muitas "tábuas" para a mesa,
António Mourinha