
Após ter visto uns robalos valentes numa saída na Praia das Bicas, dos quais apenas consegui apanhar um dos mais pequenos, na primeira oportunidade para ir ao mar pensei logo em voltar ao spot onde tinha tido aquelas belas visões. Assim, mesmo sem companhia, que não houve quem quisesse, rumei às Bicas bem pela fresquinha ainda o Sol não tinha nascido. O Mar apresentava-se excelente, ainda que com alguma força de fundo. Entrei na água procurando imediatamente o local onde tinha visto os robalos, contudo o nevoeiro matinal juntamente com o Sol baixo do lado de terra impediam-me de visualizar as marcas em terra. Não obstante fui fazendo uns agachons a ver se entrava qualquer coisa. No início de um destes agachons, quando me colocava entre duas pedras, sinto qualquer coisa a mexer por baixo de mim, viro-me e só vejo uma pequena santola semi-morta... investigo melhor, e, nas redondezas vejo um polvo de cerca de 3 kg a procurar esgueirar-se discretamente. Capturei o polvo e voltei aos meus agachons. Algumas esperas mais tarde não é que volto a sentir de novo algo a mexer debaixo de mim?... Outra vez uma santola escangalhada me indica que andava um polvo nas redondezas. E de facto assim era: outro polvo se juntou ao enfião. Mais uns quantos agachons e de robalos nem sinal! Então pensei: se os agachons não estão a dar nada e se ando a encalhar nos polvos mesmo sem andar à procura deles, se calhar justifica-se mudar de tipo de pesca e dedicar-me a estes. Assim fiz, e, ao fim de mais uns quantos mergulhos, encontrei um polvo como nunca tinha visto: dos oito tentáculos sete estavam comidos e o que restava estava mesmo assim semi-cortado, de tal forma que, durante a captura do polvo, também se separou do resto do corpo!... Isto tinha sido certamente obra de safios ou de moreias pelo que umas espreitadelas nos buracos das proximidades talvez se justificassem, antes de dar por terminada a faina e regressar a terra. Assim fiz, e, passado algum tempo, descortino na escuridão de um buraco fundo uma grande cabeça de safio, imóvel sob o foco da lanterna. Subo, preparo um novo mergulho e apresto-me para atirar ao bicho, disparo procurando acertar-lhe de viés junto a um dos olhos. Imediatamente o puxo para fora do buraco, aproveitando a surpresa e desorientação do bicho após o impacto. Quando o vejo cá fora verifico que era mais possante do que tinha imaginado. Constato também que o tiro tinha entrado não junto ao olho, mas sim mesmo no focinho do peixe e que a ponta do arpão com a barbela não o tinha atravessado encontrando-se dentro deste. Felizmente a barbela encontrava-se bem aberta dentro do abdómen do congrideo, o que me permitiu, com bastante esforço e uma faca empenada, ainda assim arrematá-lo a contento. Pesou 17 Kg e foi o peixe que salvou o dia.

E os robalos? Perguntar-me-ão em face do título deste "post". Um de cerca de 1,5 kg está nas fotografias, não veêm?... Pois asseguro-vos, qual Saint-Exupéry ante o seu principezinho, que o robalo está lá: dentro da barriga do safio...
Bons mergulhos
António Mourinha