No fim de semana
de 26 e 27 de junho, realizou-se, finalmente, o Campeonato Nacional de Pesca-submarina na Nazaré.
Os atletas já
ansiavam por esta prova desde meados de 2020, que era sucessivamente adiada por
razões pandémicas ou meteorológicas. Felizmente, no último fim de semana de junho estavam reunidas as condições para a realização da prova, concretamente entre as zonas dos Salgados
e a Foz do Arelho. E, assim foi, para mal de muitas tainhas, salemas, bodiões e
os demais.
As condições de mar nas semanas que antecederam a prova não deixaram margem para
uma boa prospeção, pelo que a maioria dos atletas
deslocou-se para a zona de prova no dia anterior ou mesmo no dia da prova. Os
atletas do CNOCA não foram exceção, no
meu caso, cheguei ao porto de abrigo da Nazaré no dia 25 pelas 11 horas da manhã e
iniciei uma voltinha de reconhecimento pela zona 1, e embora a visibilidade
fosse fraca, (água esverdeada e com muitas algas em suspensão), observei vários
cardumes de “salemossauros”, tainhas muito acessíveis, sargos de bom porte e
alguns robalos, estes muito duvidosos em termos de peso.
Na zona 2 o Hugo
da Guia e o Rogério Santana faziam o mesmo, e mais tarde juntamente com o Jorge
Luz e o Tiago Mota, trocamos todos umas impressões para concluir que na zona 2
o peixe era mais fraco mas a visibilidade melhor. Era também consensual de que havia pouco peixe por fora,
um sinal de que iria ser um primeiro dia de prova difícil.
No sábado a 1ª jornada teve o seu início com a habitual partida louca em direção aos pesqueiros, e eu resolvo ficar na
ponta de pedra mesmo em frente ao início da prova. Com boa visibilidade consegui identificar uns robalos, mas de porte muito pequeno, e logo de seguida
um bodião pontuável, que atiro prematuramente e acaba por rasgar. É aqui
que a concentração de um caçador submarino tem de estar em modo zen, deixar
fugir pontos logo nos primeiros 5 minutos não é bom. Há que manter a calma e
continuar a prova, no entanto, acabo por não ver mais peixe pontuável naquela zona
e perder uma hora de prova.
Sem um único
ponto na geleira, rumo a sul à procura de um pesqueiro, isto porque no dia anterior
só tive tempo de reconhecer a zona 1. Com o instinto apurado, abrandei numa
zona de laje, e assim que entro na água “faturei” 3 bodiões em menos de 15
minutos, nada melhor para restabelecer a calma e ganhar confiança.
Continuo a
percorrer aquelas lajes de pedra à barbatana, até que descubro uma salema num
buraco mesmo na zona da rebentação. Um tiro mal calculado e o peixe acaba por
rasgar, outro peixe rasgado e, começam novamente aqueles pensamentos - “devia
ter esperado para dar um tiro mais certeiro”, “se calhar o arpão está torto”... Enfim, com o tubo na boca também não dá para praguejar, e na pesca isso não
ajuda em nada.
Continuando mais
para Sul, mas já a recear pelas horas a passar. Acabo por arriscar noutra zona de
rebentação e consigo faturar um sargo entocado. A rebentação era forte e a minha boia andava a bater nas pedras, quando a recolho para pendurar
uma salema, o sargo já não existia, tinha desaparecido do enfião sem mais nem menos. Não foi por falta de aviso do Hugo da Guia, que na Madeira já tinha perdido um
peixe do meu enfião... ao que parece é demasiado curto, lição aprendida mas da
pior maneira.
Rasgar peixe já
custa aceitar, perder peixe do enfião é inaceitável, ainda por cima por culpa
própria. Nesta altura já me apetecia dar murros na tromba até aparecer o peixe.
Ainda assim,
consigo arpoar outro sargo e levar 5 peixes à pesagem, mas que na balança por
falta de 20 e 40gr nos bodiões, só pontuei com 3 peixes, ficando no 39º lugar da
geral. O Tiago Mota, o Jorge Luz e o Hugo da Guia apresentavam um bom enfião e
o Rogério Santana apresentava uma moreia
com 4kg, sendo eu o último classificado da equipa do Clube.
Mas isso não me
fez perder a fome ou a sede, enquanto apreciava um bom pedaço de carne grelhada
ao jantar e rematava com um tinto reserva, focava-me o dia seguinte. É aqui que
temos de manter o equilíbrio mental, porque a vontade de virar costas e
esquecer a prova é grande, no entanto, é preciso oxigenar o cérebro, perceber
os erros para emendá-los e continuar a remar contra a maré, “porque amanhã ainda é dia de prova”.
Domingo, 2º dia de prova,
zona 1, sinto-me mais focado e mais relaxado. O ambiente da prova também leva a
isso, a competição é quase feita entre amigos, alguns atletas competem há
décadas e até caçam juntos, portanto trata-se de uma competição saudável e não
de rivalidade clubística e provocações físicas como em alguns desportos.
Devido ao mar
ter maior vaga no segundo dia, opto por uma zona mais abrigada, e nessa zona
aposto nas pedras mesmo à borda de água. Isto porque o consenso era geral, não se
via peixe por fora, a vaga era maior e mesmo com maré vazia, acreditei que o
peixe estivesse encostado e escondido.
Começo a
descobrir sargos entocados a 1 metro de água, alguns de bom porte. Mudei a arma
para uma baby de 60, porque os buracos eram muito curtos e lentamente vou
metendo pontos no enfião, que desta vez estava trancado em 2 pontos, e com 3
horas de prova tinha 7 sargos que claramente pontuavam, o maior com 1,6 kg, 2 bodiões e 1 abrótea
com 2 kg. Segui aquela velha máxima, de não sair de perto do peixe, para outro sítio onde não se sabe se há peixe. Já com 4 horas de prova faço uns agachons na expectativa de arpoar uma tainha
ou salema que já as tinha visto, e numa
dessas esperas, entra um robalo de kilo a tiro. Atrás desse aparece outro
maior, contudo nem me lembrei que tinha uma arma curta, tantas horas a matar peixe com aquela arma e mesmo assim..., o arpão nem lhe tocou, e
os robalos piraram-se. Má decisão minha de fazer ali umas esperas com arma de
60, com medo de perder tempo e ir ao barco trocar.
Nesta altura
comecei a sentir o cansaço acumulado nas pernas das apneias curtas mas sucessivas,
que fazia naquelas pedras há cerca de 4 horas. Decidi parar para hidratar
e alimentar-me, chegando-me mais perto do bote da federação onde terminava
a prova. Aí perto, numa pedra que quase chegava à superfície e onde ainda caçavam cerca de 4 atletas,
consegui meter mais dois bodiões na geleira e levar 12 peixes à pesagem. Nada
mau comparado com outros atletas que não encontraram peixe e sofreram com as
condições de mar.
Nesse dia
consegui terminar em 17º lugar e recuperar alguns lugares na geral, acabando o
campeonato em 23º. Destaque para o Tiago Mota, 15º lugar da geral, e para as provas sofridas no segundo dia do Jorge Luz que o atirou para o 24º lugar, bem
como o Hugo da Guia e do Rogério Santana que terminam em 37º e 40º, num total de
67 atletas, onde alguns nem pontuaram.
Resumidamente,
foi uma prova dura, água suja, mar batido e peixe difícil de encontrar. Afinal
de contas estávamos na Nazaré a competir com os melhores de Portugal e do
Mundo. O que torna a prova tão difícil também a torna desafiante, e por isso
cá estaremos para o ano, onde quer que seja realizada.
Costumo dizer que nestas provas
não há bons ou maus atletas, porque é uma combinação de estratégia, técnica,
condição física, e claro, sorte. Basta um destes elementos não estar alinhado e
a prova não será bem sucedida. É preciso muita experiência para ser um bom
caçador submarino, mas ainda é preciso mais para triunfar numa prova deste
calibre.
Parabéns ao novo campeão nacional, André Domingues.
E não podia finalizar sem deixar de agradecer aos meus
companheiros de equipa, pela amizade que corre nestes encontros, ao meu
barqueiro Mário Silva e o seu barco “teberem quétos” (um marshall com mais de
20 anos) e ao filho da escola Orlando Carmo, “Sari”, que me apoiou no mar e em
terra. Sem vocês não tinha obtido este resultado.
Sócio Atleta
Mário Andrade